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Thursday 16 July 2015

A garota nova da sala. Parte III

Ela até pode não ligar para isso. Mas é uma grande vantagem.



Ela tinha uma paixão absurdamente anormal pela música.
E ele sempre a via tocar e ficava admirado com seus dedos ágeis.
“Um dia espero tocar como ela”, o garoto dizia a si mesmo.
Ela era boa em muitas coisas que iam além daquilo,
Sim, mas música era vida. Música era tudo.
E ser uma musicista a tornava uma garota especial.
Não mais uma garota comum. Tocar não era uma simples habilidade.
E a música estava no seu sangue, ele podia enxergar.
O garoto fez um desejo no silêncio.
Desejou ser tão bom quanto ela, para um dia poder impressioná-la.
Passou dia estudando as notas, dias estudando aquele instrumento.
Passou a dar o melhor de si em algo que nunca imaginou fazer antes.
Ele podia fazer aquilo.
— Vou compor uma música.
Afinal, que garota resistiria àquela forma de amor?
Uma música só para ela... Uma música que falasse tudo o que sentia...
O garoto trabalhou duro nisso, todos os dias.
Noites em claro... Ele mal dormia.
Mas no final tudo valeria a pena. Ele sabia.
Só não entendia como tal paixão pode surgir assim, do nada.
— Mas nada surge do nada, surge?
Ele por muitas vezes ficava confuso.
Porém, não desistiu. Continuou compondo sua melodia.
Ela ficava melhor a cada dia.
O garoto queria uma obra-prima. Porque era isso o que ela merecia.
— Algo perfeito para a garota perfeita.
E depois de dias após dias de trabalho, ele finalmente descansou.
A música estava feita. Pronta para ser ouvida.
Ele por um instante se lembrou daquele sorriso...
Daqueles olhos...
Queria-os o mais depressa possível.
Esperou pelo dia perfeito e pela hora certa.
Nada poderia dar errado.
Nada poderia falhar.
Aquela garota teria de ser surpreendida,
Ficar admirada,
E então se alegrar.
Afinal, era a música perfeita...
— A música perfeita...
Então por que é que tinha tanto medo?
O garoto se lembrou de suas outras decepções amorosas,
De suas falhas...
Daria certo, afinal?
Chegou a dúvida.
Juntamente com ela, o dia e a hora marcada.
Ela olhou para ele com aqueles olhos meigos.
Ela sorriu com aquele sorriso que o encantara da primeira vez.
“Quando é que ela ficara tão bonita?”
“Ela sempre foi”.
O instrumento estava em suas mãos...
As luzes apontavam para ele...
Tudo o que tinha de fazer era cantar para ela.
Mas a garota passou direto.
Não olhava para ele, afinal.
Não sorria para ele, afinal.
“Como você está linda”, o outro cara disse.
“Obrigada”.
E ela entrou em seu carro, indo embora para sempre...
Não tinha o que mais fazer
Os garotos de quatro rodas sempre ganhavam.
Ele, então, pegou a sua canção e a guardou,
Bem lá no fundo, onde ninguém podia chegar,
Senão ele.
Aquela canção não seria ouvida por mais ninguém.

Felipe Ferreira

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