Follow Us @soratemplates

Thursday 25 June 2015

Me dói

6/25/2015 0 Comments


Hoje sonhei com você,
Me deparei com teu sorriso,
Ele já não era mais tão belo quanto antes
Tua voz, cada vez mais inaudível
Cada dia mais intragável você se tornara para mim...

Em meu sonho brincastes com meus sentimentos,
Da minha vida fez tormentos
Estou me tornando amargo feito fel

Em meu sonho
Teu olhar era negro,
Não mais eram claros e belos como a imensidão da neve
E deles eu só sentia repúdio
Só sentia medo...

Acordei desse sonho...
Espero eu, que não seja mais uma de minhas premonições...!

Samuel M. Pinheiro

Mais que necessidade

6/25/2015 0 Comments


Em casa, distante de coisas que já não importam mais,
Pergunto-me por que não estou com você...
Sozinho, com meus pensamentos, inseguro,
Penso em minhas decisões que me levaram até aqui.
Por que apenas ficar pensando em você?
E o resto do meu dia?
- Será chato e sem graça.
Eu vou tentar fazer algo, me distrair...
- Esquece, certamente não vai conseguir.
Vou tentar escrever, ir para o meu mundo da imaginação.
- Mas não terá forças, você está sem sua inspiração.
Eu quero vê-la, mais uma vez.
Quero olhar nos seus olhos, saber que não vai me abandonar...
Quero ver o seu sorriso,
Ter a certeza de que poderei tê-la em meus braços,
Sem me preocupar com mais nada....
Eu quero vê-la, mais uma vez, para assim ficar seguro e dormir em paz.
Pois do que adianta eu tê-la em minha mente,
Se não posso pegar isso e transformar em algo real?

Felipe Ferreira

Wednesday 24 June 2015

Tudo e o nada

6/24/2015 0 Comments


Um toque, um beijo.
Há... Teu cheiro
Sensação...
Teus cabelos longos, fios perdidos entre meus dedos.

Teus medos, escondidos em forma de sorriso
Tua tristeza, em total paz,
Tua face límpida,
teu toque tão suave
Sua calmaria me excita.
Me excita desejos,

Teu semblante ainda se faz visível
Tão real aos olhos,
que os detalhes ainda são lembrados com perfeição.

Tua cabeça em meu peito,
Teu respirar agitado
Com movimentos tão dóceis,
Teu carinho,
Tuas mãos, levemente percorria meu rosto.

Tua face, minha face
Ambos, frente a frente
Na plenitude do momento
Era mais desejo,
tão pouco o sentimento veio incomodar.

Teu sexo,
Teu corpo em mim,
Meu desejo enfim...

Samuel M. Pinheiro

Tic tac para a explosão

6/24/2015 0 Comments


Dentro das minhas lembranças, me jogo.
Sou tomado por uma fúria incontrolável,
Solto em uma multidão de pensamentos
Que querem me afogar.
Sussurram em meus ouvidos o que não quero ouvir,
Falam-me o que não quero saber.
Para onde vai esse mar de dor?
— Não tente entender... Não tente.
Pegam minhas mãos, acorrentam-me,
Prendem-me em uma cadeira.
Não deixam nenhum escape. Não posso fugir.
— Você terá de ouvir!
Já percebi...
A aceitação dos fatos é inevitável.
Queria olhar para você, dizer que tudo vai ficar bem.
Mas não vai. Nada muda. E tudo sai do lugar.
Tudo o que se tem de fazer é sentar e esperar,
E deixar a vida nos mostrar
O que é que temos para viver.

Felipe Ferreira 

Wednesday 17 June 2015

Meu mar

6/17/2015 0 Comments


Por que resistir?
Será que o amor é um sentimento tão ruim para ser evitado?
Só sofre quem não sabe amar.
Só sofre quem escolhe errado.
Vejo rostos tristes, passos falsos dados;
Pensam que estão indo em uma boa direção,
Mas não! Estão todos equivocados!
Cometem as mesmas besteiras e não aprendem a lição.
Com o amor não há nada de errado.
Só precisamos parar de ir pela emoção.
Use a cabeça, não apenas a coração!
Mas tudo bem, tudo bem...
Às vezes não dá para evitar...
Às vezes não conseguimos raciocinar,
E nos descontrolamos no amor.
E acho que estou me afundando nesse mar...
Estou sendo levado por essas águas.
Estou quase me afogando nesses sentimentos.
Cada vez que tento fugir, mais os meus pés afundam na areia.
Acho que não vou conseguir resistir à essa correnteza.
A onda vem... e talvez eu deva me entregar completamente a ela.
Se é uma água boa ou amaldiçoada...
Só saberei quando estiver nos braços dela.

Felipe Ferreira

Tuesday 16 June 2015

Ela. Parte III

6/16/2015 0 Comments
Imersão II - O mar e a Lua.



Era uma noite escura. O mar tentava abraçar a lua.
Ela, alva, parecia que acolhia. "Vem aqui."
O mar, sedento, se jogava pra que lhe a envolvesse.
Por mais alto que as ondas se fundissem, nunca seria o suficiente.
Ato impossível, impulsivo, fabricado em teimosia.
A única intangível era a que ele queria.
Ela sorria. Ele sentia.
Papéis invertidos e retrocados. Nunca sabiam a quem qual papel pertencia.
O mar impulsionava em direção a ela interminavelmente.
"Meu bem, logo logo será dia."
Sabia o que isso significava. O dia vinha, ela ia.
O mar a beijava de longe, ela retribuía com outros de volta.
Maldito céu, dentre todos dados, nenhum deles merecia.
O dia chegou e levou a lua embora.
O mar estava calmo, quase estático. Apático.
Não havia motivos para esforço.
Naquela hora, nada mais o fazia sentido.
A tristeza trazia salinidade intrínseca, por isso ele era salgado.
Manhã, tarde, começo de noite.
"Cheguei." - ela disse.
Sorria enquanto a observava vindo.
E continuou no mesmo ciclo, noite atrás de noite.
Ondas, sorrisos, desejos de boa noite.
Vagarosamente, foi entendendo que nunca ocorreria.
Aquilo que tanto esperava e se esforçava por, nunca chegaria.
O mar se sacudia. A fome que sentia dela nunca seria saciada.
Em frente à verdade, o mar quis engolir o mundo.
Ilhas consumidas, pessoas naufragadas, penínsulas submergidas.
Enquanto o fazia, sabia que nada disso o ajudaria.
Quando a noite chegou, decidiu conversar com ela.
Disse tudo que precisava. As ondas, a fome, o desejo incessante.
"Não posso te retribuir desse jeito."
Ela também sabia, era inútil o empenho.
O mar salgou.
"Se existe luz refletida em mim, é apenas por culpa sua."
A lua amargou.
Sabia que não havia nada que poderia o fazer. Observou de canto.
Não havia mais o que dizer.
"Acho que vou ficar aqui." - o mar aquietou.
Fechou os olhos, esclareceu:
"Desculpa, mas, se eu ficar, não vai ser bom pra nenhum de nós dois."
Dentre todas as suas qualidades, incapacidade é a que se fez rei.
A lua disse tchau. Disse que um dia, talvez, por destino, se reencontrassem.
O mar disse: "Amém."

Mikio

Palavras de um louco de amor

6/16/2015 0 Comments


Acordei disposto a te encontrar e dizer tudo o que sinto.
Dizer que você é meu mundo, meu tudo e que já não vivo sem você.
Quero dizer que você é a pedra mais preciosa que há nessa mina,
Que tive sorte de te ter te encontrado.
E como o primeiro contato com uma joia preciosa,
Tal como o anel mais poderoso que atrai,
Eu me apeguei completamente a você.
Não vou te largar mais, não posso.
Não devo, não quero. Não vou.
Se fosse proibido te amar, ainda assim te amaria.
Se todos se voltassem contra mim  por causa desse amor,
Aí que ainda mais forte te abraçaria.
Se soldados fossem colocados para correr atrás de mim,
Eu pegaria a sua mão e correria.
Com você eu iria, o mais longe possível, para longe de todos.
Porque quando estou com você, não há dia mais perfeito.
Eu com você me sinto capaz de qualquer coisa.
Você me faz alguém melhor do que eu jamais sonhei que podia ser.

Felipe Ferreira

Monday 15 June 2015

Ver-te outra vez

6/15/2015 0 Comments


Separamo-nos.
Você foi para um lado e eu fui para um outro lugar... 
Certas coisas não podem mudar. Outras coisas simplesmente não param.
Mas eu sonhava no dia em te reencontrar, de te ver de novo.
Às vezes acordava no susto, outras vezes era uma simples lembrança.
O que me fez voltar?
"Você está aqui, na minha cabeça". E era apenas na minha cabeça.
Achava que era loucura procurar você por aí... Eu não te acharia.
Ou talvez até te encontrasse, mas não seria você, seria?
Se eu a visse de longe, te reconheceria?
Muitas coisas mudaram...
O que é estranho... Pois se nossa amizade foi realmente o que foi, deveríamos nos reaproximar. Deveríamos nos falar como sempre nos falamos...
O que mudou entre a gente? O que fez tudo mudar?
Talvez as coisas não sejam como antes, porém, estou disposto a tentar. 
Quero outra vez me deparar com seu sorriso, com seu olhar...
Quero aquelas conversas malucas, quero a sua companhia até o ponto de ônibus...
Quero outra vez a sua amizade... 
Pois essa amizade é muito rara de se achar.


Felipe Ferreira

Confissões de um amor platônico.

6/15/2015 0 Comments

"Eu espero por você.
Espero olhar todas as noites para os seus olhos,
Espero que você me repare.
Caminho ao seu lado, sinto o seu cheiro, imaginando se você também sente o meu.
Será que o seu coração bate da mesma maneira?
Será que quando nos abraçamos, você também deseja ficar ali para todo o sempre?
Será que quando você se deita na cama, também fica pensando em mim, por consequência perdendo horas de sono?
Eu espero por você.
Espero você me olhar, abrir a sua boca e confessar as palavras de amor que tanto quero ouvir.
Espero você dizer o que quero tanto dizer.
Espero que tudo isso se torne realidade, que não seja apenas mais um sonho. Ou, se for, que eu acorde no próprio sonho, em um loop infinito, em um sonho sem fim.
Pois melhor viver um sonho onde você esteja presente a ter de viver uma realidade onde você nem sequer sabe quem eu sou."


Felipe Ferreira

Sunday 14 June 2015

Ela. Parte II

6/14/2015 0 Comments
Imersão I - Mecanismo de Defesa e Criança Interior




Vejo a minha criança interior brincando com as memórias e planos com ternura.
Ela tenta constantemente construir algo que acaba a se desabar naquilo que as sustenta.
Ela as segura. Seria fácil tirar das mãos dela, mas não com a implícita que serve de barreira a ser lidada antes de qualquer ação.
"Isso não é seu."
A criança se alerta.
"Você acha?"
"Mais que acho, sei. Larga."
Ela as segura mais forte.
"Larga."
A cada pedido, o abraço aperta mais.
Ela balança a cabeça dizendo não.
"Larga." "Não."
"Larga." "Jamais."
O adulto se irrita, se aproxima.
A criança entra em lágrimas ao pressentir o cenário final.
Ao entender o inevitável, faz-se decidida. Que pelo menos o diga o que precisa.
Ela joga as memórias e planos que brincara no chão. O adulto se faz imóvel, sabendo aquilo que deve ceder.
Os dois se observam.
"Você a disse coisas que nunca chegou a fazer."
"Você não entende."
"Mas você disse."
"Você não entende. Eu não consegui."
"Ela não quis?"
"É mais complicado do que isso." - respondeu o adulto, aproximando-se das memórias.
"Não é. Você sentiu. Você viu. Eu vi. Mesmo que não fosse uma linha reta, você já sabia o caminho pra todas as metas."
"Nem tudo acontece como queremos."
"Mas você a largou. Como você pode a largar?"
"Não era fácil.
 Os enigmas que eu tinha pra salvá-la deixaram de ser claros e a cada caminho que eu percorria se mostrava sem saída.
 Eu tinha que voltar ao ponto de partida.
 Eu me sentia mais cansado e cada vez mais sozinho."
"Você falou em salvá-la."
"Mas eu não sei se a encontraria. Eu a procurei. Eu tentei fazer o que eu podia.
 No fim que eu fiz, eu desisti. Pereci lá mesmo."
"Eu não acredito que você não viu."
"O que?"
"Que ela era, também, além dela mesma, os enigmas e os labirintos."

Saturday 13 June 2015

Ela. Parte I

6/13/2015 0 Comments

Introdução: Noite




"Não pensa nela. Não pensa nela. Não pensa nela."
É engraçado como juro esquecimento pela lembrança contínua de uma mandante ligada ao assunto que, primeiramente, se pretende esquecer.
"Não vai funcionar. Nunca vai funcionar."
Repito o procedimento impulsivamente em desespero de acelerar o processo, esquecendo a inutilidade do mesmo.
É óbvio que ela é a única coisa na minha mente.
"Desisto."
Acomodo os seus restos dentro de mim. Te olho de canto, sem virar completamente o rosto, deitado com a cabeça ainda no travesseiro, como se estivesse deitada ali do meu lado.
"Quer ficar? Fica. Se não você, eu lido com isso."
Busco força interior. Busco egoísmo baseado em lógica.
"Deixa ela ir. Isso não te faz bem. Isso não vai te ajudar. Deixa ela ir."
Espremo o espaço da memória ligada a você, sufocando o conteúdo.
"Ambos sabemos que você não vai fazer."
Solto e deixo ser. Entre tosses e inspiros, te ouço engolir seco.
Tu me fala sem presunção ou ressentimento:
- Ora, não é como se eu estivesse aqui por vontade própria.
- Me desculpa. Eu não sei como lidar com essa situação.
- Tatu do bem.
- Mas você não viu o que eu acabei de tentar fazer?
- Tatu do bem.
O que me vêm em primeira é admiração pela sua capacidade de perdoar.
O que me vêm de segunda é o medo de eu ter feito você sentir o que já fiz.
Em terceira é decepção em saber que já deveria ser uma lição aprendida.
Por conta da distimia, não existia força pra basear a resistência.
Cansada definia. Era aquele tudo bem que não deveria.
- Me desculpa.
- Adriano, tatu do bem.
Ela está certa. Não é culpa dela, é sua.
A memória que volta incessante e inconsciente é a prova irrefutável da importância dela, que engloba tantas coisas que você cultua.
Não é ela quem não te deixa esquecer, é você que a perdura.
"O que eu vou fazer?"


Mikio


Ela. Parte II

Friday 12 June 2015

Canal no youtube

6/12/2015 0 Comments

A ideia surgiu de um amigo, Adriano Mikio, e eu gostei muito.
Fazer um vídeo dos meus contos, de pequenos textos ou poemas parece ser uma ideia fantástica. Porque nem todo mundo que eu conheço consegue ficar muito tempo preso à leitura, mas pode ser muito mais fácil a algumas pessoas ficar presa à um vídeo.
O conto Aline-Sentimentos foi o primeiro a fazer parte dessa nova experiência. Com as palavras aparecendo aos poucos na tela e a música variando conforme a leitura do conto, o resultado para mim saiu melhor do que eu havia pensado. É claro que não está perfeito, mas a intenção é postar mais vídeos e melhorar cada vez mais para aumentar a proximidade do leitor com a obra.

Não se esqueçam de se escreverem no canal: Contos de Ferreira
E até a próxima.

Felipe Ferreira

Antologia poética

6/12/2015 0 Comments
Às vezes quando me perco no calor de teu corpo,
Meus momentos..teus momentos...
Ao luar viajar ao infinito avistar o horizonte, te amar... te amar..
Te amar é tão bom , é ver o pôr-do-sol todos os dias
Olhar as estrelas e ver o brilho delas em teu olhar
É ter a certeza que mesmo longe você estará sempre em meu coração...
Às vezes, quando uma dor invade o meu peito,
meus momentos... Teus momentos...
Lembranças suas vem à minha mente me confortar, me trazer alegria... Te amar, te amar...
Madrugadas frias preso dentro de mim mesmo, na janela a observar o nada... é como se eu escutasse as vozes das estrelas;
Aquele momento nômade onde você vai pra onde quiser.. mesmo estando no mesmo lugar...
É procurar seu coração dentro de uma garrafa qualquer, presa na orla da praia...
Te amar é ser cada dia melhor
É imaginar o mundo lindo
Que temos dentro de nós
É te aceitar como és...
É te olhar com um brilho no olhar transparente
É buscar o que se tem de felicidade onde ninguém procura
É poder sorrir quando só se pode chorar,
É viver momentos que não se podem ser esquecidos
É acreditar no que tantos dizem não existir,
É fazer os meu os teus sentimentos.
É buscar o que é eterno aos olhos de quem ama.
Amar é concretizar aquilo que não tem preço;
Quando eu me encontro contigo, me vejo em um novo mundo
Num mudo sem guerra e sem perturbações
Num mundo de paz, em um mundo de amor
Tudo com você se torna diferente
Vejo que as pessoas ficam mais contentes
E como se o céu se enchesse de estrelas cadentes
Os desejos das pessoas se realizam
Os sonhos enfim se concretizam
Inclusive o meu, que foi sempre estar ao seu lado...
E agora posso ficar aqui e te amar... Te amar...


12

6/12/2015 0 Comments



Contei doze dias nesse mês
Dei doze passos,
Esperei doze horas.
E aqui estou eu, mais uma vez,
Sem bombons, sem rosas,
Quando você merecia cem.
E apenas um poema,
Quando você merecia uns doze.

Por que eu te amo?
Posso listar doze razões.

Quando ninguém mais estava,
Você vinha e me encontrava.
Quando ninguém mais me amava,
O seu amor me explorava.
Quando eu virei as costas,
Seus olhos continuaram fitos nos meus.
Quando eu dizia meus planos,
Você dizia que podiam se juntar aos seus.
Quando eu mais precisava,
Eu sabia com quem podia contar.
Você sempre soube quando eu estava
Precisando urgentemente desabafar.
Você nunca disse não,
Você sempre esteve ao meu lado.
Você me deu a maior força,
E os melhores conselhos.
Você se tornou minha maior inspiração.
E durante todo esse tempo,
Nunca partiu o meu coração.
Quando eu estava querendo desistir,
Você continuou acreditando em mim.
E deu a maior prova de amor,
Deixando claro que quer ir até o fim.

São apenas doze razões para te amar,
Quando sei que há muito mais.
Quando sei que com você
Eu sou muito mais.

Ah,

E te amo sempre.
Só doze letras,
Só uma verdade.

Felipe Ferreira

Confusão

6/12/2015 0 Comments


Ao cair da noite, tudo se desenrolaria
Da complexidade à simplicidade
Qualquer dificuldade desapareceria,
Sem algemas nas mãos, ao abrir a janela,
Eu voaria.

Estar aqui mas não se sentir presente
Ver coisas alegres mas não se alegrar,
Pessoas tentando tirar de mim um sorriso...
Mas estão cegas demais para enxergar
Que aqui não é nenhum paraíso!

Tentam me entender, mas só isso.
Tudo o que procuram é a própria paz.
De nada adianta seus conselhos,
Ajuda nenhuma me traz.

Resta confusão, restam dúvidas.
Minha cabeça gira,
E eu permaneço no mesmo lugar.
À minha frente uma folha
Uma questão de múltipla escolha
Onde o “x” definirá todo meu futuro.

Enlouqueço, não durmo.
Não tomo a droga da decisão,
Tudo ocorre mas nada acontece!
A ponta do lápis quebra,
A folha cai ao chão,
Quando pego, rasga-se em duas partes
Como rasgado foi o meu coração.

Olho para o céu e imploro por uma resposta,
— Sério, isso? — Imagino a indagação de Deus.
Eu poderia pedir para que expandisse minha mente,
Mas não há como se lembrar
De algo que não se aprendeu
Não é algo que se estudou e se esqueceu.
Não é um branco, é um vazio.
A essa parte da vida, despreparado estou eu.

Talvez um dia essa neblina se dissipe
E eu volte a ver a luz do sol,
O brilho do Teu olhar...
As horas, o tempo e o espaço,
Talvez tudo volte a fazer sentido,
Como no tempo em quando eu era criança,
E não precisava me preocupar com nada disso.

Felipe Ferreira

Thursday 11 June 2015

Amor de mãe

6/11/2015 0 Comments



— Oi mãe.
Era pequenina. Seus olhos eram a coisa mais linda. Nunca acreditei em amor à primeira vista, até vê-la pela primeira vez. A sensação é única... O sentimento de alegria, e ao mesmo tempo de desespero. “Oh, meu Deus, Ted, estou grávida, tem uma criança aqui dentro!”. No início você não sabe bem o que fazer, fica meio perdida. Você quer ter todo o cuidado do mundo, quer que nasça uma criança saudável e perfeita, mas, acima de tudo, você quer ser uma boa mãe.
Todos queriam pegá-la no colo, todos queriam mimá-la. Eu dei todo o carinho do qual ela precisava, toda a atenção, todo o meu amor. Sua primeira palavra foi “mamãe”, eu a vi dar os seus primeiros passos e a vi comendo sozinha pela primeira vez, lambuzando-se toda. Eu adorava pegar nos dedinhos dos pés dela e vê-la dar aquela gargalhada gostosa, que só os bebês sabem dar. Eu fui mais que uma mãe para ela, fui também o pai que ela nunca teve — porque Ted não quis ter essa responsabilidade. Eu a ensinei jogar bola, a se sujar na lama, brincar de carrinho, também tudo isso, por que não? Eu a ensinei a ser uma criança feliz, a ser humilde, a tratar os outros com respeito, a amar aos amiguinhos como ela amava a si mesma. Eu a ensinei a ter simplicidade, a não querer ser mais que ninguém e a andar no caminho certo. Eu cumpri o meu papel de mãe. Fiz o que muita mãe não faz hoje em dia. Eduquei minha filha, e a ensinei a buscar sabedoria e entendimento.
Ketllyn cresceu bem, sempre rodeada de amigos e pessoas que a apoiavam. Eu sempre estive ao seu lado, nos piores e melhores momentos, ajudando-a nas tarefas da escola, e ela sempre me retribuía com boas notas. Eu me sentia a mãe mais feliz do mundo. Eu me sentia como se tivesse ganhado na loteria, e agradecia todos os dias a Deus por ter me dado uma filha tão incrível. Eu queria aquela menininha linda, sorridente, com olhar sincero e gentil para sempre. Eu sabia, como toda mãe, que ela um dia cresceria. Só não acreditava que seria tão rápido.
De repente olhei para ela e vi o quanto que havia crescido. Ela já sabia se trocar sozinha, já sabia ir para a escola sozinha, não pedia mais ajuda com o dever de casa... Aos poucos Ketllyn aprendia a se virar sem mim.  Mas quando ela chegou em casa, toda sorridente, dizendo que estava apaixonada, eu parei. Foi quando percebi que era real. Foi quando caiu a ficha: ela não era mais aquela bebê, não era mais aquela garotinha, e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso.
— Oi, mãe.
Não era mais pequenina, embora seus olhos continuassem a coisa mais linda. E o tal moço por quem ela disse estar apaixonada, ela o trouxera aqui em casa e minha intuição de mãe dissera que ele não era o rapaz certo para minha filha. Nós que somos mãe sabemos, conhecemos nossos filhos melhor que eles se conhecem. Mas Ketllyn, teimosa como toda adolescente, querendo experimentar as maravilhas da vida, insistiu que Gustavo fosse um bom garoto, mesmo que muitas vezes ele tivesse a feito chorar. Eu expliquei para ela que o amor não era assim, que ela devia arrumar alguém que lhe fizesse feliz, mas tudo o que ela dizia era que com Gustavo ela se sentia bem. Nunca fui boa, na verdade, em orientar sobre sentimentos, até porque as decisões que fiz em minha vida sentimental não haviam sido lá muito boas.
Depois de um tempo, quando Ketllyn começou a namorar, eu quase que não reconhecia mais minha filha. Foi como se de repente ela se esquecesse de que tinha uma casa e de que tinha uma mãe. Parecia que a cada dia que se passava, íamos nos distanciando cada vez mais uma da outra.
— Mãe. Eu já cresci. — E era verdade. Porque nossos filhos crescem. Esquecemos de que não criamos eles para nós, mas para o mundo. E eu teria de deixá-la ir, deixa-la fazer suas próprias escolhas, mais cedo ou mais tarde.
Mas ela se apegou muito àquele garoto, ao ponto de amá-lo mais do que amava a mim. Gustavo se tornou uma má influência para minha filha. Ela passou a chegar cada vez mais tarde em casa, a beber, e a fumar — mesmo eu a orientando tanto sobre o uso dessas drogas e suas consequências. E passei a me perguntar o que tinha feito de errado, porque é o que toda mãe pergunta quando seus filhos vão para um caminho que você não espera. Nenhuma mãe quer que isso aconteça. Mas estamos todas sujeitas a isso. Por mais que demos todo o nosso carinho, amor e atenção, e os ensinemos a andar no caminho certo, ainda assim eles podem escolher um outro caminho que eles achem que seja melhor. A escolha, no final de tudo, será a deles e não a nossa. Ketllyn não sabia, mas era como se todas as minhas noites mal dormidas, todo o meu esforço para sustentá-la e tudo o que havia feito sozinha para criá-la, de repente se tornasse em vão. Porque eu fiz de tudo para amá-la, e para quê? Para ela não se importar.
Ketllyn havia escolhido o seu próprio caminho, ao lado de Gustavo. Havia dias em que ela nem vinha para casa e eu apenas orava, pedindo a Deus que cuidasse dela para mim, independentemente de onde ela estivesse. Mas cada vez ela dava mais trabalho e mais desculpas para não voltar para casa. Até que ela finalmente terminou o ensino médio, completou dezoito anos e me surpreendeu, dizendo que sairia de casa.
Lembrei-me de quando Ketllyn era ainda pequena e a levei ao parquinho perto de casa para brincar. Naquele dia ela se divertiu muito e a deixei muito à vontade com as outras crianças que estavam lá. Mas então, quando dei por mim, ela estava no topo do escorregador, pronta para escorregar. Eu corri até ela enquanto dizia: — Filha, não. Dá a mão pra mamãe. Mas ela me ignorou: — Não, eu consigo mamãe. E antes que eu conseguisse alcançá-la, lá foi ela, tropeçando no próprio pé e escorregando de barriga e dando de cara com o chão. Depois ela veio chorando me abraçar, além de tudo se sentindo culpada. Agora, estava prestes a acontecer a mesma coisa. Eu não queria que ela fosse morar com Gustavo, pois eu sabia exatamente que suas intenções não eram boas. Eu não queria que ela se machucasse como eu me machuquei com o pai dela. Apesar de tudo, ela ainda continuava sendo minha filha, e mesmo sendo maior de idade, eu me sentia no dever de cuidar dela. Por isso corri atrás de Ketllyn, pedi para que não fosse, implorei para que ficasse, para que desse a mão para a mamãe... Mas ela preferiu escorregar.
Quem é mãe sabe o quanto sofremos quando estamos longe de nossos filhos. Quem é mãe sabe o quanto ficamos preocupadas quando eles vão para casa de um amigo, quando passam a noite fora... E, quando o filho sai de casa de vez, então, como é que fica o nosso coração? Como é que lidamos com esse sofrimento? Ela era minha única filha... Eu só tinha ela como companhia.... Vê-la saindo de casa foi como ver uma parte de mim indo com ela, sem saber quando eu a veria outra vez.
Foram dias longos, que pareciam não ter fim. Dias intensos de sofrimento. Dias que não passavam, em que eu ficava olhando para a porta, esperando aquela garotinha voltar para casa. Voltei um pouco no tempo, no tempo em que eu não dormia direito, por causa de seu chororô; dessa vez não dormia direito porque ela não estava em casa. Eu ficava pensando onde ela estaria e o que estaria fazendo e desejava que tudo estivesse bem, que os anjos estivessem a protegendo.
Meu coração ficava na mão toda vez que eu ouvia falarem dela. As notícias que se espalharam e chegaram aos meus ouvidos não eram nada boas. Eu não quis acreditar em nada, porque aquela não podia ser minha filha: eu não havia criado uma traficante, não havia criado uma viciada, não havia criado uma criminosa. Todas noites eu deitava em minha cama, com o coração apertado, torcendo para que ela voltasse logo para casa.
— Oi, mãe.
Ela me ligou, pedindo dinheiro. Foi quando não deu para continuar acreditando que estivesse tudo bem. Percebi pela sua voz que estava desesperada, percebi o quanto que precisava de mim, mas ela negou tudo e disse que estava bem, para que eu ficasse tranquila. Mas é claro que eu não fiquei. Tudo foi se tornando difícil... Eu apenas ficava pensando em como eu poderia ter feito mais, como poderia ter sido uma melhor mãe... Mas há certas coisas que não estão no nosso controle.
E em um desses dias, em que eu olhava para a porta de entrada, esperando Ketllyn aparecer, torcendo para as coisas melhorarem e voltarem a normal... o pior aconteceu. Minha filha, de fato, entrou pela aquela porta, mas não como aquela garotinha meiga, não como aquela garota sorridente e linda que eu esperava ver... Ela estava muito magra, como se não tivesse comido a dias; também estava muito machucada, como se tivesse levado uma surra, e dos seus olhos não paravam de sair lágrimas de desespero. Acompanhando-a, estava Gustavo, com o semblante de um vilão, prestes a cometer uma loucura; com uma mão ele apertava o braço de uma filha, com outra ele apontava a arma para a cabeça dela. Esse foi o momento em que eu fiquei em pânico, enquanto ele gritava pedindo dinheiro, xingando minha filha, e dizendo várias coisas que não entravam em minha cabeça. Eu só consegui me mexer quando ele disse que ia atirar nela se eu não cooperasse. Então eu dei tudo o que ele pediu, dei todas as economias que tinha e deixei que ele levasse o que quisesse. Depois, ele largou minha filha no chão, quando ela começou a ficar ainda mais desesperada, gritando NÃO, NÃO, NÃO, e eu não entendia nada, porque Gustavo já tinha pego o que ele queria e iria nos deixar em paz...
Mas então entendi. Olhei para Gustavo e ele apontava a arma para mim. Seus olhos eram de raiva, e ele queria liberá-la. Queria fazer minha filha sofrer, ao ver sua própria mãe morrer diante de seus olhos.
Ele se aproximou de mim. Puxou o gatilho com força. Houve um clique, mas nenhum disparo.
— Acho que é o seu dia de sorte.
E Gustavo foi embora. Ketllyn se levantou para me abraçar. Eu a envolvi em seus braços e chorei com ela, enquanto ela se desculpava.
— Me perdoe, mãe, você estava certa — Ali estava a minha garotinha, me abraçando após o tombo no escorregador, sentindo-se culpada. — Não quero mais experimentar te desobedecer para ver o quanto você estava certa. Não quero mais ter que estar a ponto de perdê-la para dar o valor que você merece. Mãe, me perdoa. Eu te amo. Será que você ainda me aceita de volta?
Eu olhei em teus olhos e limpei suas lágrimas.
— Não importa quantos erros você cometa, filha, eu sempre estarei aqui, de braços abertos para te receber de volta.
Não foi nada fácil, mas essa foi uma fase por qual tivemos de passar juntas. Ambas estávamos aprendendo. Eu me separei novamente dela mais tarde, quando ela foi para a faculdade, e dessa vez eu estava mais preparada. Não conseguiremos manter nossos filhos conosco para sempre, e nem sempre eles farão as nossas vontades, mas creio que se mostrarmos o verdadeiro caminho a eles, com certeza se lembrarão de nós quando estiverem em apuros e voltarão para casa.


Felipe Ferreira

O jeito com que o mundo me olha

6/11/2015 0 Comments


Sempre achei minha vida uma droga. Achei que não havia jeito de uma mudança e que eu sempre estaria presa naquele sofrimento, em um círculo fechado, girando e girando, sem nenhuma escapatória. Eu amaldiçoei o dia em que minha mãe me gerara, amaldiçoei os nove meses que tive de passar naquela maldita barriga. Eu não queria mais continuar vivendo daquele jeito. Continuar naquele inferno para quê? Minha mãe não queria saber de mim, meu pai quase nunca estava em casa e, quando estava, só sabia brigar com ela. Se eu morresse, ninguém sentiria minha falta. Ninguém se importaria. Eu só seria uma garota a menos no mundo.
Antes de entrar no colegial, até que eu conseguia enfrentar sozinha os problemas do dia a dia; eu não era tão isolada, e tinha alguns colegas legais, até. Porém quando entrei no ensino médio tudo pareceu piorar em uma velocidade surpreendente. A sensação de estar distante de tudo e todos estarem distantes de mim aumentava a cada dia. Eu não gostava de falar com ninguém e ninguém se importava de vir falar comigo; para a maioria eu era invisível e eu até que achava melhor assim. Eu chegava da escola, cansada e deprimida, e ia direto para o quarto e lá ficava, em meu próprio mundo. Eu costumava me olhar no espelho, me deparar com uma gorda horrível que merecia morrer; e então eu chorava até dormir. Eu não tinha nada para fazer, não tinha amigos, não tinha com quem me divertir e nada com o que me preocupar. Era apenas eu, e meus pais brigando na madrugada perturbando os vizinhos.
Um dia, mais deprimida que qualquer outro da semana, me tranquei no banheiro, depois de ter comido demais. Eu não estava me sentindo bem e meus pais, para ajudar, estavam brigando feito cão e gato. Eu parei outra vez em frente ao espelho, olhando aquele rosto que eu já cansara de ver e desejei sumir por um instante. Mas sumir não era uma opção no momento, não dava para simplesmente estalar os dedos e desaparecer. Será que serei sempre assim, – pensei comigo mesma – gorda e feia? E decidi que não queria ser daquele jeito para sempre, que tinha de mudar, e se eu mudasse, talvez, as pessoas passassem a ser mais legais comigo e aí eu pudesse ter amigos e tudo o que eu nunca tive, e ser uma garota normal, aceita pela sociedade. Então, pensando nas inúmeras formas de mudar a minha vida, pensei no que seria a ideal, a qual eu poderia começar naquele exato momento. E foi quando me ajoelhei em frente ao vaso sanitário, abri a tampa e coloquei o dedo na goela, até sentir toda a comida subir pela minha garganta e vomitar. E esse foi o primeiro dia.
Desde então, todos os dias após eu jantar, eu acabava correndo direto para o banheiro. Vomitar não era legal, eu sabia, mas não me importava. Eu não me importava com o gosto ruim que ficava na boca, eu não me importava com os efeitos colaterais. Eu só queria ficar igual às garotas da tevê. Ficar bonita e parar de sofrer com o mundo lá fora. Porém, mesmo depois que eu comecei a perder um pouco de peso, eu não via indícios da felicidade. Eu tinha medo que mesmo depois de ficar magra, eu continuasse infeliz, sem amigos, em uma eterna solidão... fiquei me perguntando se as coisas melhorariam depois disso e acabei percebendo, por fim, que não. Minha mãe continuaria ignorando minha existência e meu pai continuaria fazendo as coisas que ele fazia.
Os dias se passaram e, depois de um mês, após ter conseguido chegar aos cinquenta quilos, olhei-me novamente no espelho esperando ver uma pessoa diferente e vi a mesma garota obesa de sempre, e pensei: nada disso está adiantando, afinal. Frustrada e com muita raiva, eu me joguei na cama para chorar até o sol nascer no outro dia. Eu queria dormir para esquecer todos os meus problemas, dormir para sumir com toda aquela raiva e dor... Mas não consegui dormi. Fiquei acordada, olhando para o teto do meu quarto até de madrugada, quando meu pai chegou e acabou completamente com o meu sono. Ele chegou gritando com minha mãe e eram duas da manhã quando meus pais ainda estavam discutindo. Meu pai a xingava de todos os nomes e ela gritava feito uma louca. Eu estava passando mal e não estava aguentando toda aquela gritaria. Foi quando me levantei da cama, e fui para o banheiro, com a intenção de vomitar, mesmo sem ter comido nada, porque vomitar estava se tornando mais normal a cada dia.  Porém, quando olhei para o lavatório, vi uma lâmina de barbear. E não tive tempo para pensar direito no que eu estava fazendo... foi automático e muito rápido. Tudo o que eu queria era aliviar aquela dor de alguma forma e pensei que aquela seria uma boa solução para os meus problemas. Peguei a lâmina e fui para o canto do boxe, sentando-me no chão, olhando para o meu pulso... eu nunca havia sentido tanto medo; ele veio como o forte vento da chuva: rápido e gélido, da cabeça aos pés, fazendo tremer cada parte do meu corpo. Mas eu tinha que liberar toda aquela raiva, eu estava cansada de guardar tudo aquilo para mim e, naquele instante, em um único corte, eu tirei uma boa parte do peso que estava me sufocando. Senti a dor de imediato, e um alívio grande, tudo isso misturado com um sentimento de culpa. Fiz outro corte, e mais outro... E para cada gota de sangue que caía, eram rios de lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Elas se amontoavam ali no chão, formando a marca da minha angústia e sofrimento... formando minha identidade... o que eu era e o que ninguém podia mudar.
Os frequentes vômitos e cortes foram então o escape que eu achei que tinham de ter os problemas da minha vida. A automutilação aliviava sim, sem dúvidas, mas o problema é que tudo voltava com mais força depois. Por causa dos cortes que eu fazia no pulso, tive de usar blusas de frio para escondê-los, e isso se tornou uma dificuldade porque eu passei a ser mais estranha na escola do que eu já era. Eu notava o olhar de cada um. Era um olhar diferente, dizendo que eu não fazia parte daquele mundo, dizendo para mim que eu deveria morrer porque seria a melhor coisa a se fazer. Eu estava prestes a acreditar naquilo. Depois de um tempo os cortes não estavam adiantando mais, não doíam tanto quanto doía minha alma. Eu me olhava no espelho e ainda via a mesma garota gorda e infeliz, pensando em me jogar de algum prédio alto e atrapalhar o trânsito de algumas pessoas. Eu já estava desacreditada do mundo, sem nenhum propósito de vida.
Mas aí aconteceu algo que eu não esperava: eu ganhei uma amiga.
Ingrid era uma garota legal do colégio que andava com outras pessoas legais, às quais eu considerava pessoas muito acima da minha classe social para falarem comigo algum dia. E, eu não sei por que, mas Ingrid quebrou aquela barreira invisível ao falar comigo e, por incrível que pareça, me tratou como seu eu fosse uma garota normal. E só sei que do nada ela havia se aproximado de mim e logo estávamos falando de vários assuntos aleatórios. Do nada estávamos fazendo trabalho em minha casa, assistindo filmes de terror e falando bobagens. Do nada ela havia se tornado minha melhor amiga e, mais tarde, mais que isso, uma irmã. Do nada. Não sei como ela descobriu o quanto que eu estava precisando daquilo, mas ela chegara quando eu mais precisava e soube exatamente como tirar um sorriso de mim quando eu mais queria chorar. Com o tempo eu até parei um pouco com os cortes, porque, mesmo sem ela saber dos meus problemas, ela conseguia fazer com que eu os esquecesse, de um jeito que eu não conseguiria sozinha.
Todo mundo deveria ter uma amiga assim, para te colocar para cima na hora certa, para te levantar quando você está prestes a cair. Eu só tinha medo de que um dia, quando Ingrid descobrisse o que eu passava em casa e o que eu às fazia no banheiro, ela nunca mais falasse comigo. Por isso mantive tudo em segredo. Por três meses.
Certa noite meus pais passaram do limite. De modo geral, eles apenas brigavam verbalmente, e eram apenas palavras sujas jogadas ao vento, e muita gritaria. Mas dessa vez, não sei o que houve, meu pai estava muito mais alterado e avançou para cima da minha mãe e começou a agredi-la, dando tapas em seu rosto. Eu sabia que minha mãe não se importava com minha existência, e que eu poderia muito bem deixá-la ali no chão, chorando, enquanto o bêbado do meu pai continuava batendo nela. Mas eu não podia ver um homem agredindo uma mulher e não fazer nada, então eu avancei para cima do meu pai, tirando-o de cima dela; e nessa, meu pai virou a mão e deu um soco em meu rosto, que me jogou para trás. Irritada e gritando aos infernos, peguei o primeiro objeto que vi em minha frente e acertei a cabeça dele. O vaso se quebrou e meu pai caiu, sem mais se levantar. Eu me afastei, olhando para minha mãe e vendo-a assustada pela primeira vez. Mas tudo o que ela disse foi:
— Não pedi sua ajuda, vadia.
Porque ela me odiava. E seria sempre assim. Minha mãe nunca quis que eu nascesse; e desde que sua tentativa de aborto não dera certo, ela tem me odiado. E como eu poderia viver, se a minha própria mãe desejava que eu não tivesse vindo ao mundo?
Eu corri para o banheiro, chorando, e me tranquei lá dentro. Peguei a lâmina que havia escondido, ainda com marcas de sangue, e olhei para o meu pulso. Rasguei minha pele com força, enquanto mordia os lábios para não gritar. Aquele seria o momento. Eu estava fazendo tudo de novo, só que dessa vez eu sangraria até morrer. Não parecia como os outros dias, em que eu pensava na morte apenas por pensar; a morte estava mais perto de mim dessa vez, e eu conseguia senti-la. O desgosto que havia em mim era tão grande que morrer seria o melhor remédio.
Foi quando senti meu celular vibrando... e vi o número da Ingrid na tela... E chorei mais ainda porque Ingrid não merecia uma amiga como eu. Ela não merecia não saber da verdade...
— Laura? É a Ingrid... Laura? — Eu apenas fiquei chorando, segurando o celular, olhando o sangue escorrer pelo meu braço, sem coragem para dizer...
— Está tudo bem com você? Parece que está chorando. Laura! Por Deus, fala alguma coisa, está me deixando preocupada!
Foi quando eu engoli o choro e falei com ela. E disse toda a verdade, todos os meus problemas, tudo o que eu passei nos últimos anos e o que eu estava fazendo para aliviar toda minha dor. Expliquei a droga da minha vida a ela e disse para não se preocupar mais comigo porque aquele seria o último dia que eu sofreria.
— Laura, você não precisa fazer isso.
— Ninguém vai se importar. Eu não sou a garota ideal que o mundo deseja. Ninguém vai dar a mínima se eu morrer. Tudo o que eu sou é uma gorda a qual o mundo não precisa.
— Laura, do que você está falando? Eu já disse que a gorda aqui sou eu, pare com essa ideia maluca de que é gorda, está bem? E com certeza há muito em você que o mundo ainda não viu, você só está assim porque...
— Não, Ingrid, você não entende! Eu não quero mais viver! Estou cansada!
— Você não pode! Eu vou me importar se você morrer. Será que isso não conta?
Como apenas continuei chorando, Ingrid continuou:
— Você só está com raiva, Laura. Depois de tudo o que você tem passado, é normal você se sentir assim. Eu só peço a você que não desista agora. Você já chegou até aqui, pode continuar. Se está cansada, pare com o que está fazendo, por favor, e vá descansar. Amanhã na escola conversamos mais sobre isso, está bem?
Eu acabei concordando com ela. Só porque Ingrid estava sendo mais que uma amiga para mim; estava sendo a irmã que eu nunca tive, e que sabia muito bem como cuidar de mim. Para ela me ligar naquele exato momento, quando eu estava prestes a cometer uma besteira maior, eu só pude pensar que fosse um sinal divino ou algo assim.
No dia seguinte, levantei bem melhor sabendo que Ingrid, minha melhor amiga, ao saber dos meus problemas, continuava do meu lado. Meu pai já não estava mais em casa, a sala estava limpa, e minha mãe tinha ido para o trabalho. Tomei meu café da manhã, e saí de casa como quem queria uma mudança. Ingrid confiava em mim, achava que havia jeito em minha vida e não queria que eu sofresse. Então eu comecei a me perguntar por que Ingrid se importava tanto comigo e o que ela ganharia, afinal? No final das contas, Ingrid apenas sofreria. E eu não queria que Ingrid sofresse, por isso disse a mim mesma que me esforçaria ao máximo para dar o melhor de mim.
Mas houve uma coisa. Na escola, quando chegamos, Ingrid e eu não conseguimos nos falar muito porque para falarmos daquele assunto precisávamos ficar a sós, então ela disse que falaria comigo com mais calma na saída. Porém, antes do último sinal, na aula de Física, o professor pediu um trabalho em dupla para fazermos e entregarmos em sala. No mesmo instante, Ingrid juntou sua mesa à minha para fazermos o trabalho, mas Helena, que fazia parte da outra roda de amigos de Ingrid, ficou com muita raiva, pois aparentemente ela ficaria sozinha. Então, ela se levantou furiosamente e veio às nossas mesas:
— Por que se sentou com ela? — disse a garota, fuzilando Ingrid com olhos.
— Vamos fazer o trabalho juntas.
            Helena não pareceu nada satisfeita com a resposta.
— Por que está fazendo isso? Já ganhou a sua aposta. Já sabemos que pode ser amiga de uma estranha. Mas agora você já pode parar de fingir e voltar a andar com a gente!
Eu olhei para Helena, depois para Ingrid.
— O que ela está falando, Ingrid?
— Nada.
— Nada? — Helena se exaltou, depois se virou para mim: — Acha mesmo que ela está sendo sua amiga de verdade? Acha mesmo que do nada você ganharia uma melhor amiga, com quem sempre poderia contar, sem o mínimo de esforço?
— Não, isso não é verdade — Ingrid se defendeu — eu sou sua amiga, Laura. Não dê ouvidos a ela.
— Isso tudo foi uma aposta!  Uma aposta que fizemos para ver quanto tempo ela aguentava você. E, pelo visto, ela ganhou.
Eu esperei até que Ingrid olhasse nos meus olhos.
— Isso é verdade? — perguntei.
— Laura...
— É verdade? Apenas responda.
— É, mas...
Eu comecei a chorar. Levantei-me, Ingrid tentou me impedir, querendo se explicar, mas eu não queria ouvir o que ela tinha para dizer. Disse para o professor que estava passando mal e que precisava ir ao banheiro e fiquei lá trancada até o término da aula. Chorei até o mundo acabar. Queria que acabasse. Seria melhor assim. E desejei, mais que nunca, ter aquela lâmina em minhas mãos...
Depois, fui até a sala de aula, peguei minhas coisas, e saí correndo, querendo chegar o mais rápido possível em casa. No caminho, entretanto, Ingrid começou a gritar o meu nome e me seguir, enquanto eu apressava o passo, dizendo para ela me deixar em paz. Como ela não parou de correr atrás de mim, dobrei à esquina e fui por outro caminho, seguindo um novo plano.
A algumas quadras da minha escola tinha uma rodovia, onde passavam muitos carros em altas velocidades. Era exatamente para lá que eu estava indo, agora certa do que eu queria fazer e certa de que não ninguém se importaria.
— Laura! Laura!
Eu ignorei Ingrid. Larguei a mochila no chão para correr mais rápido e continuei em linha reta, não me importando com os próximos segundos. Eu só queria deixar aquele mundo para trás e tudo o que havia nele.
— LAURA, NÃO!

************

Acordei no dia seguinte, em um quarto particular, e logo percebi que não era um hospital da rede pública, pois nunca que eu ficaria em um quarto como aquele, o qual parecia mais uma suíte de luxo. Um enfermeiro supersimpático me atendeu, dizendo o quanto que eu tivera sorte em ter sobrevivido. Ao meu lado, em uma poltrona, estava Ingrid, dormindo. A minha testa estava envolta de uma grande faixa branca, e o meu corpo inteiro estava cheio de curativos. Tentei me mexer, mas doeu. Eu não me lembrava muita coisa do que tinha acontecido... Quando Ingrid acordou, e me viu consciente, ela começou a chorar sem parar.
— Oh, me Deus! — ela disse em meio as lágrimas, levantando-se e m dando um abraço — Me perdoe! Me perdoe! Me perdoe!
Ingrid repetiu muitas vezes “me perdoe” antes de me soltar, mas ela ainda continuou chorando ao falar:
— Eu não deveria ter feito aquilo. Fui uma idiota ao fazer aquela aposta. Me perdoe. Eu não sabia que você passaria a ser tão importante em minha vida. Tudo o que eu disse, cada palavra, foi verdade, eu não estava mentindo! Você se tornou uma irmã para mim e sempre vai ser minha melhor amiga.  Eu amo você! — e ela me abraçou novamente.
Aquelas lágrimas, aquele olhar desesperado, aquele abraço... eu não sabia se acreditava em tudo aquilo. Porém, naquele momento, Ingrid era a única que estava ali, do meu lado, garantindo minha segurança.
— Ingrid... Por que eu estou aqui, cadê meus pais?
Ela se afastou, enxugou as lágrimas e sentou na poltrona.
— Bem... Não conseguimos falar com seu pai. E sua mãe...
— Não quis vir — eu disse. E Ingrid confirmou com a cabeça — Seus pais estão pagando isso aqui?
— Meus tios. Tecnicamente não tenho pais.
E ouvir aquilo foi muito estranho, porque até então eu a achava uma garota perfeita. E eu não acreditava que nunca tínhamos falado sobre seus pais.
— Sei o que pensa. Acha que sou uma garota normal e que não passo por problemas... Mas você tem de entender que não é só você que tem problemas, Laura. Há pessoas por aí com problemas piores que o seu. Eu sempre fui bullyada na escola por ser  gorda; viviam me dando apelidos como Baleia fora d’água e Botijão de Gás. Aposto que você nunca foi chamada assim. Porque, só para você saber, você não é gorda, eu tenho trinta quilos a mais que você. A minha mãe morreu de câncer ano passado. O meu pai está preso desde que eu tinha dez anos de idade. E eu nunca tentei me matar por isso. Porque a vida é assim, não é fácil para ninguém; se para cada problema que tivéssemos resolvêssemos não viver mais, não haveria mais ninguém no mundo. Mas eu entendo você, Laura. Você não teve amigos, não teve com quem compartilhar suas dores... Não tem mais de ser assim. Eu estou aqui agora, e não vou deixar nada de mau acontecer a você. Eu vou estar sempre ao seu lado para o que der e vier, não importe quantas vezes você falhe e erre. Porque os amigos são para isso, não desistem um do outro, mas se cuidam e se amam. E eu vou caminhar junto com você, como uma verdadeira amiga e irmã.
Tudo o que fiz foi chorar. Porque as palavras me faltaram para dizer o quanto que eu a agradecia por isso.

************

Eu mudei. E muito. Mas não dependeu apenas de Ingrid, dependeu muito mais de mim, para falar a verdade. Porque mudar não é fácil. Enquanto você está querendo subir, há pessoas querendo te derrubar e às vezes o seu próprio ego pode levar você à ruina. Então o segredo, realmente, é não desistir.
Todo dia que chego em casa dou um beijo e um abraço na minha mãe, e digo que a amo, sem esperar nada em troca. Quando meu pai chega, depois de semanas fora, faço o mesmo; e é muito bom vê-lo sorrindo para mim.

Não me importo mais o jeito com que o mundo me olha. Não existe um padrão, isso eu aprendi. O que me importa é o que eu realmente sou e que não podem mudar. Eu estou feliz por me olhar no espelho e não ver mais aquela garota gorda e horrorosa. Vejo agora a criação mais perfeita de Deus: uma garota que sabe o que quer da vida e que não tem nenhum medo de ser feliz.

Felipe Ferreira