Sempre achei minha vida
uma droga. Achei que não havia jeito de uma mudança e que eu sempre estaria
presa naquele sofrimento, em um círculo fechado, girando e girando, sem nenhuma
escapatória. Eu amaldiçoei o dia em que minha mãe me gerara, amaldiçoei os nove
meses que tive de passar naquela maldita barriga. Eu não queria mais continuar
vivendo daquele jeito. Continuar naquele inferno para quê? Minha mãe não queria
saber de mim, meu pai quase nunca estava em casa e, quando estava, só sabia
brigar com ela. Se eu morresse, ninguém sentiria minha falta. Ninguém se
importaria. Eu só seria uma garota a menos no mundo.
Antes de entrar no
colegial, até que eu conseguia enfrentar sozinha os problemas do dia a dia; eu
não era tão isolada, e tinha alguns colegas legais, até. Porém quando entrei no
ensino médio tudo pareceu piorar em uma velocidade surpreendente. A sensação de
estar distante de tudo e todos estarem distantes de mim aumentava a cada dia.
Eu não gostava de falar com ninguém e ninguém se importava de vir falar comigo;
para a maioria eu era invisível e eu até que achava melhor assim. Eu chegava da
escola, cansada e deprimida, e ia direto para o quarto e lá ficava, em meu
próprio mundo. Eu costumava me olhar no espelho, me deparar com uma gorda
horrível que merecia morrer; e então eu chorava até dormir. Eu não tinha nada
para fazer, não tinha amigos, não tinha com quem me divertir e nada com o que
me preocupar. Era apenas eu, e meus pais brigando na madrugada perturbando os
vizinhos.
Um dia, mais deprimida
que qualquer outro da semana, me tranquei no banheiro, depois de ter comido
demais. Eu não estava me sentindo bem e meus pais, para ajudar, estavam
brigando feito cão e gato. Eu parei outra vez em frente ao espelho, olhando
aquele rosto que eu já cansara de ver e desejei sumir por um instante. Mas sumir
não era uma opção no momento, não dava para simplesmente estalar os dedos e
desaparecer. Será que serei sempre assim, – pensei comigo mesma – gorda e feia?
E decidi que não queria ser daquele jeito para sempre, que tinha de mudar, e se
eu mudasse, talvez, as pessoas passassem a ser mais legais comigo e aí eu pudesse
ter amigos e tudo o que eu nunca tive, e ser uma garota normal, aceita pela
sociedade. Então, pensando nas inúmeras formas de mudar a minha vida, pensei no
que seria a ideal, a qual eu poderia começar naquele exato momento. E foi
quando me ajoelhei em frente ao vaso sanitário, abri a tampa e coloquei o dedo
na goela, até sentir toda a comida subir pela minha garganta e vomitar. E esse
foi o primeiro dia.
Desde então, todos os
dias após eu jantar, eu acabava correndo direto para o banheiro. Vomitar não
era legal, eu sabia, mas não me importava. Eu não me importava com o gosto ruim
que ficava na boca, eu não me importava com os efeitos colaterais. Eu só queria
ficar igual às garotas da tevê. Ficar bonita e parar de sofrer com o mundo lá
fora. Porém, mesmo depois que eu comecei a perder um pouco de peso, eu não via
indícios da felicidade. Eu tinha medo que mesmo depois de ficar magra, eu continuasse
infeliz, sem amigos, em uma eterna solidão... fiquei me perguntando se as
coisas melhorariam depois disso e acabei percebendo, por fim, que não. Minha
mãe continuaria ignorando minha existência e meu pai continuaria fazendo as
coisas que ele fazia.
Os dias se passaram e, depois
de um mês, após ter conseguido chegar aos cinquenta quilos, olhei-me novamente
no espelho esperando ver uma pessoa diferente e vi a mesma garota obesa de
sempre, e pensei: nada disso está adiantando, afinal. Frustrada e com muita
raiva, eu me joguei na cama para chorar até o sol nascer no outro dia. Eu
queria dormir para esquecer todos os meus problemas, dormir para sumir com toda
aquela raiva e dor... Mas não consegui dormi. Fiquei acordada, olhando para o
teto do meu quarto até de madrugada, quando meu pai chegou e acabou
completamente com o meu sono. Ele chegou gritando com minha mãe e eram duas da
manhã quando meus pais ainda estavam discutindo. Meu pai a xingava de todos os
nomes e ela gritava feito uma louca. Eu estava passando mal e não estava
aguentando toda aquela gritaria. Foi quando me levantei da cama, e fui para o
banheiro, com a intenção de vomitar, mesmo sem ter comido nada, porque vomitar estava
se tornando mais normal a cada dia. Porém,
quando olhei para o lavatório, vi uma lâmina de barbear. E não tive tempo para
pensar direito no que eu estava fazendo... foi automático e muito rápido. Tudo
o que eu queria era aliviar aquela dor de alguma forma e pensei que aquela seria
uma boa solução para os meus problemas. Peguei a lâmina e fui para o canto do
boxe, sentando-me no chão, olhando para o meu pulso... eu nunca havia sentido
tanto medo; ele veio como o forte vento da chuva: rápido e gélido, da cabeça
aos pés, fazendo tremer cada parte do meu corpo. Mas eu tinha que liberar toda
aquela raiva, eu estava cansada de guardar tudo aquilo para mim e, naquele
instante, em um único corte, eu tirei uma boa parte do peso que estava me
sufocando. Senti a dor de imediato, e um alívio grande, tudo isso misturado com
um sentimento de culpa. Fiz outro corte, e mais outro... E para cada gota de
sangue que caía, eram rios de lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Elas se amontoavam
ali no chão, formando a marca da minha angústia e sofrimento... formando minha
identidade... o que eu era e o que ninguém podia mudar.
Os frequentes vômitos e
cortes foram então o escape que eu achei que tinham de ter os problemas da
minha vida. A automutilação aliviava sim, sem dúvidas, mas o problema é que
tudo voltava com mais força depois. Por causa dos cortes que eu fazia no pulso,
tive de usar blusas de frio para escondê-los, e isso se tornou uma dificuldade porque
eu passei a ser mais estranha na escola do que eu já era. Eu notava o olhar de
cada um. Era um olhar diferente, dizendo que eu não fazia parte daquele mundo,
dizendo para mim que eu deveria morrer porque seria a melhor coisa a se fazer.
Eu estava prestes a acreditar naquilo. Depois de um tempo os cortes não estavam
adiantando mais, não doíam tanto quanto doía minha alma. Eu me olhava no
espelho e ainda via a mesma garota gorda e infeliz, pensando em me jogar de
algum prédio alto e atrapalhar o trânsito de algumas pessoas. Eu já estava
desacreditada do mundo, sem nenhum propósito de vida.
Mas aí aconteceu algo que
eu não esperava: eu ganhei uma amiga.
Ingrid era uma garota
legal do colégio que andava com outras pessoas legais, às quais eu considerava
pessoas muito acima da minha classe social para falarem comigo algum dia. E, eu
não sei por que, mas Ingrid quebrou aquela barreira invisível ao falar comigo
e, por incrível que pareça, me tratou como seu eu fosse uma garota normal. E só
sei que do nada ela havia se aproximado de mim e logo estávamos falando de
vários assuntos aleatórios. Do nada estávamos fazendo trabalho em minha casa, assistindo
filmes de terror e falando bobagens. Do nada ela havia se tornado minha melhor
amiga e, mais tarde, mais que isso, uma irmã. Do nada. Não sei como ela
descobriu o quanto que eu estava precisando daquilo, mas ela chegara quando eu
mais precisava e soube exatamente como tirar um sorriso de mim quando eu mais
queria chorar. Com o tempo eu até parei um pouco com os cortes, porque, mesmo
sem ela saber dos meus problemas, ela conseguia fazer com que eu os esquecesse,
de um jeito que eu não conseguiria sozinha.
Todo mundo deveria ter
uma amiga assim, para te colocar para cima na hora certa, para te levantar
quando você está prestes a cair. Eu só tinha medo de que um dia, quando Ingrid
descobrisse o que eu passava em casa e o que eu às fazia no banheiro, ela nunca
mais falasse comigo. Por isso mantive tudo em segredo. Por três meses.
Certa noite meus pais
passaram do limite. De modo geral, eles apenas brigavam verbalmente, e eram
apenas palavras sujas jogadas ao vento, e muita gritaria. Mas dessa vez, não
sei o que houve, meu pai estava muito mais alterado e avançou para cima da
minha mãe e começou a agredi-la, dando tapas em seu rosto. Eu sabia que minha
mãe não se importava com minha existência, e que eu poderia muito bem deixá-la
ali no chão, chorando, enquanto o bêbado do meu pai continuava batendo nela.
Mas eu não podia ver um homem agredindo uma mulher e não fazer nada, então eu
avancei para cima do meu pai, tirando-o de cima dela; e nessa, meu pai virou a
mão e deu um soco em meu rosto, que me jogou para trás. Irritada e gritando aos
infernos, peguei o primeiro objeto que vi em minha frente e acertei a cabeça
dele. O vaso se quebrou e meu pai caiu, sem mais se levantar. Eu me afastei, olhando
para minha mãe e vendo-a assustada pela primeira vez. Mas tudo o que ela disse
foi:
— Não pedi sua ajuda, vadia.
Porque ela me odiava. E
seria sempre assim. Minha mãe nunca quis que eu nascesse; e desde que sua
tentativa de aborto não dera certo, ela tem me odiado. E como eu poderia viver,
se a minha própria mãe desejava que eu não tivesse vindo ao mundo?
Eu corri para o banheiro,
chorando, e me tranquei lá dentro. Peguei a lâmina que havia escondido, ainda com
marcas de sangue, e olhei para o meu pulso. Rasguei minha pele com força,
enquanto mordia os lábios para não gritar. Aquele seria o momento. Eu estava fazendo
tudo de novo, só que dessa vez eu sangraria até morrer. Não parecia como os
outros dias, em que eu pensava na morte apenas por pensar; a morte estava mais
perto de mim dessa vez, e eu conseguia senti-la. O desgosto que havia em mim era
tão grande que morrer seria o melhor remédio.
Foi quando senti meu
celular vibrando... e vi o número da Ingrid na tela... E chorei mais ainda
porque Ingrid não merecia uma amiga como eu. Ela não merecia não saber da
verdade...
— Laura? É a Ingrid...
Laura? — Eu apenas fiquei chorando, segurando o celular, olhando o sangue
escorrer pelo meu braço, sem coragem para dizer...
— Está tudo bem com você?
Parece que está chorando. Laura! Por Deus, fala alguma coisa, está me deixando
preocupada!
Foi quando eu engoli o
choro e falei com ela. E disse toda a verdade, todos os meus problemas, tudo o
que eu passei nos últimos anos e o que eu estava fazendo para aliviar toda
minha dor. Expliquei a droga da minha vida a ela e disse para não se preocupar mais
comigo porque aquele seria o último dia que eu sofreria.
— Laura, você não precisa
fazer isso.
— Ninguém vai se
importar. Eu não sou a garota ideal que o mundo deseja. Ninguém vai dar a
mínima se eu morrer. Tudo o que eu sou é uma gorda a qual o mundo não precisa.
— Laura, do que você está
falando? Eu já disse que a gorda aqui sou eu, pare com essa ideia maluca de que
é gorda, está bem? E com certeza há muito em você que o mundo ainda não viu,
você só está assim porque...
— Não, Ingrid, você não
entende! Eu não quero mais viver! Estou cansada!
— Você não pode! Eu vou me importar se você morrer. Será
que isso não conta?
Como apenas continuei
chorando, Ingrid continuou:
— Você só está com raiva,
Laura. Depois de tudo o que você tem passado, é normal você se sentir assim. Eu
só peço a você que não desista agora. Você já chegou até aqui, pode continuar. Se
está cansada, pare com o que está fazendo, por favor, e vá descansar. Amanhã na
escola conversamos mais sobre isso, está bem?
Eu acabei concordando com
ela. Só porque Ingrid estava sendo mais que uma amiga para mim; estava sendo a irmã
que eu nunca tive, e que sabia muito bem como cuidar de mim. Para ela me ligar
naquele exato momento, quando eu estava prestes a cometer uma besteira maior,
eu só pude pensar que fosse um sinal divino ou algo assim.
No dia seguinte, levantei
bem melhor sabendo que Ingrid, minha melhor amiga, ao saber dos meus problemas,
continuava do meu lado. Meu pai já não estava mais em casa, a sala estava
limpa, e minha mãe tinha ido para o trabalho. Tomei meu café da manhã, e saí de
casa como quem queria uma mudança. Ingrid confiava em mim, achava que havia
jeito em minha vida e não queria que eu sofresse. Então eu comecei a me
perguntar por que Ingrid se importava tanto comigo e o que ela ganharia,
afinal? No final das contas, Ingrid apenas sofreria. E eu não queria que Ingrid
sofresse, por isso disse a mim mesma que me esforçaria ao máximo para dar o
melhor de mim.
Mas houve uma coisa. Na
escola, quando chegamos, Ingrid e eu não conseguimos nos falar muito porque para
falarmos daquele assunto precisávamos ficar a sós, então ela disse que falaria comigo
com mais calma na saída. Porém, antes do último sinal, na aula de Física, o
professor pediu um trabalho em dupla para fazermos e entregarmos em sala. No
mesmo instante, Ingrid juntou sua mesa à minha para fazermos o trabalho, mas
Helena, que fazia parte da outra roda de amigos de Ingrid, ficou com muita
raiva, pois aparentemente ela ficaria sozinha. Então, ela se levantou
furiosamente e veio às nossas mesas:
— Por que se sentou com
ela? — disse a garota, fuzilando Ingrid com olhos.
— Vamos fazer o trabalho
juntas.
Helena
não pareceu nada satisfeita com a resposta.
— Por que está fazendo
isso? Já ganhou a sua aposta. Já sabemos que pode ser amiga de uma estranha. Mas
agora você já pode parar de fingir e voltar a andar com a gente!
Eu olhei para Helena,
depois para Ingrid.
— O que ela está falando,
Ingrid?
— Nada.
— Nada? — Helena se
exaltou, depois se virou para mim: — Acha mesmo que ela está sendo sua amiga de
verdade? Acha mesmo que do nada você ganharia uma melhor amiga, com quem sempre
poderia contar, sem o mínimo de esforço?
— Não, isso não é verdade
— Ingrid se defendeu — eu sou sua amiga, Laura. Não dê ouvidos a ela.
— Isso tudo foi uma
aposta! Uma aposta que fizemos para ver
quanto tempo ela aguentava você. E, pelo visto, ela ganhou.
Eu esperei até que Ingrid
olhasse nos meus olhos.
— Isso é verdade? —
perguntei.
— Laura...
— É verdade? Apenas
responda.
— É, mas...
Eu comecei a chorar.
Levantei-me, Ingrid tentou me impedir, querendo se explicar, mas eu não queria
ouvir o que ela tinha para dizer. Disse para o professor que estava passando
mal e que precisava ir ao banheiro e fiquei lá trancada até o término da aula.
Chorei até o mundo acabar. Queria que acabasse. Seria melhor assim. E desejei,
mais que nunca, ter aquela lâmina em minhas mãos...
Depois, fui até a sala de
aula, peguei minhas coisas, e saí correndo, querendo chegar o mais rápido
possível em casa. No caminho, entretanto, Ingrid começou a gritar o meu nome e
me seguir, enquanto eu apressava o passo, dizendo para ela me deixar em paz.
Como ela não parou de correr atrás de mim, dobrei à esquina e fui por outro
caminho, seguindo um novo plano.
A algumas quadras da
minha escola tinha uma rodovia, onde passavam muitos carros em altas
velocidades. Era exatamente para lá que eu estava indo, agora certa do que eu
queria fazer e certa de que não ninguém
se importaria.
— Laura! Laura!
Eu ignorei Ingrid. Larguei
a mochila no chão para correr mais rápido e continuei em linha reta, não me
importando com os próximos segundos. Eu só queria deixar aquele mundo para trás
e tudo o que havia nele.
— LAURA, NÃO!
************
Acordei no dia seguinte,
em um quarto particular, e logo percebi que não era um hospital da rede
pública, pois nunca que eu ficaria em um quarto como aquele, o qual parecia
mais uma suíte de luxo. Um enfermeiro supersimpático me atendeu, dizendo o
quanto que eu tivera sorte em ter sobrevivido. Ao meu lado, em uma poltrona,
estava Ingrid, dormindo. A minha testa estava envolta de uma grande faixa
branca, e o meu corpo inteiro estava cheio de curativos. Tentei me mexer, mas
doeu. Eu não me lembrava muita coisa do que tinha acontecido... Quando Ingrid
acordou, e me viu consciente, ela começou a chorar sem parar.
— Oh, me Deus! — ela
disse em meio as lágrimas, levantando-se e m dando um abraço — Me perdoe! Me
perdoe! Me perdoe!
Ingrid repetiu muitas
vezes “me perdoe” antes de me soltar, mas ela ainda continuou chorando ao
falar:
— Eu não deveria ter
feito aquilo. Fui uma idiota ao fazer aquela aposta. Me perdoe. Eu não sabia
que você passaria a ser tão importante em minha vida. Tudo o que eu disse, cada
palavra, foi verdade, eu não estava mentindo! Você se tornou uma irmã para mim
e sempre vai ser minha melhor amiga. Eu
amo você! — e ela me abraçou novamente.
Aquelas lágrimas, aquele
olhar desesperado, aquele abraço... eu não sabia se acreditava em tudo aquilo.
Porém, naquele momento, Ingrid era a única que estava ali, do meu lado,
garantindo minha segurança.
— Ingrid... Por que eu
estou aqui, cadê meus pais?
Ela se afastou, enxugou
as lágrimas e sentou na poltrona.
— Bem... Não conseguimos
falar com seu pai. E sua mãe...
— Não quis vir — eu
disse. E Ingrid confirmou com a cabeça — Seus pais estão pagando isso aqui?
— Meus tios. Tecnicamente
não tenho pais.
E ouvir aquilo foi muito
estranho, porque até então eu a achava uma garota perfeita. E eu não acreditava
que nunca tínhamos falado sobre seus pais.
— Sei o que pensa. Acha
que sou uma garota normal e que não passo por problemas... Mas você tem de
entender que não é só você que tem problemas, Laura. Há pessoas por aí com
problemas piores que o seu. Eu sempre fui bullyada
na escola por ser gorda; viviam me dando
apelidos como Baleia fora d’água e Botijão de Gás. Aposto que você nunca
foi chamada assim. Porque, só para você saber, você não é gorda, eu tenho
trinta quilos a mais que você. A minha mãe morreu de câncer ano passado. O meu
pai está preso desde que eu tinha dez anos de idade. E eu nunca tentei me matar
por isso. Porque a vida é assim, não é fácil para ninguém; se para cada
problema que tivéssemos resolvêssemos não viver mais, não haveria mais ninguém
no mundo. Mas eu entendo você, Laura. Você não teve amigos, não teve com quem
compartilhar suas dores... Não tem mais de ser assim. Eu estou aqui agora, e
não vou deixar nada de mau acontecer a você. Eu vou estar sempre ao seu lado
para o que der e vier, não importe quantas vezes você falhe e erre. Porque os
amigos são para isso, não desistem um do outro, mas se cuidam e se amam. E eu
vou caminhar junto com você, como uma verdadeira amiga e irmã.
Tudo o que fiz foi
chorar. Porque as palavras me faltaram para dizer o quanto que eu a agradecia por
isso.
************
Eu mudei. E muito. Mas
não dependeu apenas de Ingrid, dependeu muito mais de mim, para falar a
verdade. Porque mudar não é fácil. Enquanto você está querendo subir, há
pessoas querendo te derrubar e às vezes o seu próprio ego pode levar você à
ruina. Então o segredo, realmente, é não desistir.
Todo dia que chego em
casa dou um beijo e um abraço na minha mãe, e digo que a amo, sem esperar nada
em troca. Quando meu pai chega, depois de semanas fora, faço o mesmo; e é muito
bom vê-lo sorrindo para mim.
Não me importo mais o
jeito com que o mundo me olha. Não existe um padrão, isso eu aprendi. O que me importa
é o que eu realmente sou e que não podem mudar. Eu estou feliz por me olhar no
espelho e não ver mais aquela garota gorda e horrorosa. Vejo agora a criação
mais perfeita de Deus: uma garota que sabe o que quer da vida e que não tem
nenhum medo de ser feliz.
Felipe Ferreira
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