Ela, alva, parecia que acolhia. "Vem aqui."
O mar, sedento, se jogava pra que lhe a envolvesse.
Por mais alto que as ondas se fundissem, nunca seria o suficiente.
Ato impossível, impulsivo, fabricado em teimosia.
A única intangível era a que ele queria.
Ela sorria. Ele sentia.
Papéis invertidos e retrocados. Nunca sabiam a quem qual papel pertencia.
O mar impulsionava em direção a ela interminavelmente.
"Meu bem, logo logo será dia."
Sabia o que isso significava. O dia vinha, ela ia.
O mar a beijava de longe, ela retribuía com outros de volta.
Maldito céu, dentre todos dados, nenhum deles merecia.
O dia chegou e levou a lua embora.
O mar estava calmo, quase estático. Apático.
Não havia motivos para esforço.
Naquela hora, nada mais o fazia sentido.
A tristeza trazia salinidade intrínseca, por isso ele era salgado.
Manhã, tarde, começo de noite.
"Cheguei." - ela disse.
Sorria enquanto a observava vindo.
E continuou no mesmo ciclo, noite atrás de noite.
Ondas, sorrisos, desejos de boa noite.
Vagarosamente, foi entendendo que nunca ocorreria.
Aquilo que tanto esperava e se esforçava por, nunca chegaria.
O mar se sacudia. A fome que sentia dela nunca seria saciada.
Em frente à verdade, o mar quis engolir o mundo.
Ilhas consumidas, pessoas naufragadas, penínsulas submergidas.
Enquanto o fazia, sabia que nada disso o ajudaria.
Quando a noite chegou, decidiu conversar com ela.
Disse tudo que precisava. As ondas, a fome, o desejo incessante.
"Não posso te retribuir desse jeito."
Ela também sabia, era inútil o empenho.
O mar salgou.
"Se existe luz refletida em mim, é apenas por culpa sua."
A lua amargou.
Sabia que não havia nada que poderia o fazer. Observou de canto.
Não havia mais o que dizer.
"Acho que vou ficar aqui." - o mar aquietou.
Fechou os olhos, esclareceu:
"Desculpa, mas, se eu ficar, não vai ser bom pra nenhum de nós dois."
Dentre todas as suas qualidades, incapacidade é a que se fez rei.
A lua disse tchau. Disse que um dia, talvez, por destino, se reencontrassem.
O mar disse: "Amém."
Mikio
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