Quando aquela pessoa que você
gosta te abraça forte.
— Para tudo. Volta um pouco. Olha! Você viu isso?
É bem visível a empolgação do Coração. Mas a Razão, ao contrário, não
demonstra o mínimo de interesse. Só volta o vídeo por educação.
— Só foi um abraço — diz a Razão.
— Não foi só um abraço! — Retruca o Coração — Foi o abraço! E que abraço! Eu estou acelerado ainda aqui.
— Cara... Só foi um abraço.
O Coração ainda não conseguia acreditar como que a Razão podia ser tão
fria.
— A garota que gostamos acaba de nos dar o mais forte abraço que já
recebemos na vida e você age como se não houvesse acontecido nada. Não é
possível que você não se sente nenhum pouco feliz com isso.
— Pois não me sinto.
— Impossível! Como não pode sentir nada?
— Os sentimentos são por sua conta, esqueceu? — diz a Razão,
sossegada, largando o computador e indo para o sofá. — Afinal, um abraço é
apenas um abraço, não significa que agora ela está loucamente apaixonada por
nós.
— Mas significa que talvez tenhamos alguma chance.
— Duvido muito. Esse abraço me deixou, na verdade, mais preocupado. De
qualquer forma, hoje preciso descansar. Não quero pensar nessas coisas agora.
A Razão se deita no sofá e fecha os olhos. O Coração se levanta,
nervoso.
— Nada disso! Vamos terminar essa conversa! PELOAMORDEDEUS, por que
você ficou mais preocupado? O que há de errado com você?
A razão apenas olha para o Coração, demonstrando pena...
— Ah, o que seria de você sem mim, não é mesmo? Teria feito muito mais
burradas do que já faz. Mas, enfim... — A Razão se senta e o Coração se junta
ao seu lado. — Você não percebeu, mas isso tudo está ficando cada vez mais
perigoso, com ela se aproximando de nós dessa maneira. Sabe, não temos a mínima
ideia de suas intensões, nem nada. Ela pode estar apenas sendo gentil, o que
acho que justamente ela está fazendo. Mais tarde ela será nossa amiga demais.
E, então, não poderemos fazer mais nada.
— Nós a amamos.
— Não... É apenas uma paixão passageira, já tivemos essa conversa
inúmeras vezes e você nunca aprende. — O Coração abriu a boca para falar, mas a
Razão o interrompeu: — Ah, é verdade, você não tem cérebro para isso.
Um momento constrangedor de silêncio se passou.
— Agora posso dormir? — pergunta a Razão, cansada. Pensar em tudo
aquilo dava realmente muito trabalho.
— De jeito nenhum — respondeu o Coração. — Se já me machuco com seus
conselhos, não quero nem saber o que acontece enquanto você dorme e eu fico
acordado...
Felipe Ferreira
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